Drummond, Guimarães Rosa e Lya Cavalcanti:
três amigos e um amor
(Os animais...)
Por Elvia Bezerra*
A consciência da desigualdade na forma de amor entre o homem e o animal é recorrente na prosa de Drummond. Certamente essa sua preocupação contribuiu para a fervorosa admiração que ele devotou à jornalista Lya Cavalcanti que, depois de aposentada, viveu integralmente para os animais. O poeta identificou na amiga uma maneira de amar mais próxima à do cão. Ela recambiava um amor mais parecido com o que recebia: incondicional. Sintonizava-se com o animal numa freqüência diferente da que Drummond conhecia.
Como fundadora da APA (Associação Protetora dos Animais), Lya amava e se entregava justamente àqueles cães que não lhe davam nenhum prazer, àqueles que, pelo contrário, podiam causar até repugnância. Eram eles que, na opinião do poeta, testavam a nossa capacidade de bons sentimentos. O interesse de Lya e Drummond foi tamanho que, em 1970, fundaram um jornalzinho, tamanho ofício, mimeografado, com o título de "A Voz dos que Não Falam". Ali estava o maior poeta vivo do Brasil co-assinando uma publicaçãozinha produzida artesanalmente, da forma mais precária. É comovente identificar, nos arquivos de Plínio Doyle, os originais do Voz, e ler-se no alto da primeira página, o crédito oficial contrastando com a fragilidade do periódico: Direção: Lya Cavalcanti e Carlos Drummond de Andrade.
Outro grande amante dos animais foi Guimarães Rosa. Lya o conheceu na casa de Beata Vettori, no pós-guerra, em Londres, quando ele, já autor de Sagarana e então primeiro-secretário da embaixada do Brasil em Paris, visitava a Inglaterra.
* Elvia Bezerra é colaboradora/redatora da Barsa & Planeta Internacional e autora de A trinca do Curvelo: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Nise da Silveira. Rio de Janeiro, Topbooks, 1995.
Leia o texto completo em: http://www.usp.br/convive/artigos/elvia.htm
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